Texto Bíblico: Atos 16.16-40
Paulo é um exemplo de cristão que tinha um ministério que desafiava o esgotamento. Seu ministério é normal como o nosso: muitas vezes açoitado por motivos louváveis ao apontar erros e insistir no que consideramos ser o melhor para as pessoas e para o Reino de Deus.
Nos ocupamos em muitos trabalhos, nos preocupamos com seu cumprimento; e nos chateamos com as atitudes e reações indiferentes das pessoas, diante dos papéis que estamos desenvolvendo. Assim, o nosso serviço, atrelado às metas do sucesso, se torna um fardo extremamente pesado e insuportável. É por isso que muitos de nós acabamos envolvidos na crítica amargurada e sucumbindo na depressão estressante. Vejamos algumas atitudes que entram na nossa vida sorrateiramente e que minam nossas forças.
A impressão causada pela opressão dos resultados acaba na depressão de espírito e na repressão dos relacionamentos. Aqueles que estão impulsionados pela pressão do desempenho terminam realizando um serviço obrigado, tenso e murmurante. Neste clima, o trabalho se constitui numa escravatura, cujas correntes invisíveis se estampam nos sentimentos desmotivados e nas tarefas executadas sob o humor, constrangido do encargo. Nada é mais insípido do que o serviço desempenhado sob a hipoteca do dever e caucionado pela determinação do sucesso. Aquilo que você deve fazer, para que tenha sucesso e seja aceito – é um aprisionamento do espírito do serviço.
Temos aqui um outro fator desgastante para o obreiro/a do Senhor: a busca de aprovação das pessoas tem sido a causa de muitas distorções na qualidade do serviço. Mais nos preocupamos com os relatórios e opiniões, do que com a execução despretensiosa de nossas funções. Um serviço legítimo é aquele que é levado a efeito sem as exigências de uma moral externa e sem a cobrança interna de dar satisfações aos outros.
Um serviço isento das exigentes expectativas externas e incentivado pelo caráter sublime da alegria de servir, tem conseqüências extraordinárias tanto em quem o pratica como para quem é determinado. Servir sem esperar a recompensa é servir já recompensado. Servir bem sem a preocupação de dar um relatório emocional, ou de buscar o aplauso dos outros, para o nosso serviço, é um estado de libertação que nos garante um desenvolvimento sincero e apaixonado na obra do Senhor.
Há um pensamento do reverendo H. H. Hobbs que amplia um pouco mais a idéia do serviço. Diz ele: O mundo mede a grandeza de um homem pelo número de pessoas que o servem; enquanto que os Céus avaliam a estatura dos homens pelo número de pessoas a quem eles servem. Servir ao maior número possível sem se servir deste serviço, para desenvolver o seu prestígio. Servir sem a conotação de vítima, sem o alarde do relatório, sem esperar a recompensa, sem o manuseio dos interesses é um serviço do espírito do evangelho: Então, enquanto temos oportunidade, façamos o bem a todos, mas principalmente aos domésticos da fé. Mas, quando tu deres esmola, (e fizeres o bem), não saiba a tua mão esquerda o que fez a direita. Gálatas 6:10 e Mateus 6:3. O serviço cristão não escolhe a quem servir, não limita a quantos deve servir, nem proclama aos quatro ventos o serviço realizado.
A ânsia pelo poder é um outro fator que não deixa uma pessoa dormir em paz. O serviço que traz as marcas do evangelho de Jesus Cristo, não se relaciona com a idéia de grandeza: Levantou-se também entre os discípulos uma contenda, sobre qual deles parecia ser o maior. Ao que Jesus lhes disse: Os reis dos gentios dominam sobre eles, e os que sobre eles exercem autoridade são chamados benfeitores. Mas vós não sereis assim; antes o maior entre vós seja como o mais novo; e quem governa como quem serve. Pois qual é maior: quem está à mesa, ou quem serve? Porventura não é quem está à mesa? Eu, porém, estou entre vós como quem serve. Lucas 22:24-27. Não há qualquer manifestação de orgulho ou ostentação no serviço realizado dentro do reino de Deus. Se nós nos vangloriamos dos nossos serviços é porque estes foram realizados com a finalidade de nos projetar, e isto significa claramente que não somos discípulos de Cristo.
Não confunda alhos com bugalhos. Não digo que não precisamos mostrar o que temos feito de bom. Pelo contrário: temos que ser melhores que os “filhos das trevas”, que pelo desejo de reconhecimento fazem tudo com o padrão global de qualidade. Devemos nos empenhar ao máximo para ter um ministério Pastoral excelente. A questão está na intenção do coração. O reconhecimento e o aplauso tem dois lados: o de se deprimir pela falta do primeiro e a satanização com o inchaço do segundo.
Só o ego mergulhado na velha natureza, vivo e ativo quer ser reconhecido. O egoísmo é a causa do serviço propalado. O engrandecimento com os serviços prestados é uma total ausência de um coração transformado. O serviço nunca pode tornar-se escravidão para aquele que ama, nem tão pouco um trampolim de lançamento. Quem serve de verdade não se serve do serviço para conseguir se ressaltar. E um ego crucificado é o único veículo de um serviço autêntico.
Não faço uma apologia à indolência no serviço cristão. Pelo contrário, creio que um serviço sem esgotamento vem de muito trabalho, mas com uma alma sossegada nAquele que já aceitou nosso serviço no pastoreio do Seu rebanho.
Como o apóstolo nos ensina a servir sem esgotamento?
Como podemos servir com alegria, desprovidos de murmuração, contendas e ficar refém de ofensas? A Bíblia mostra como seguir nos trilhos corretos do serviço cristão, sem ficar desanimados ou sobrecarregados.
1- Tudo o que fizermos temos que ter em vista a glória de Deus.
1 Coríntios 10.31 Portanto, quando vocês comem, ou bebem, ou fazem qualquer outra coisa, façam tudo para a glória de Deus.
Se fazemos tudo para a glória de Deus, temos o sossego de agradar a quem realmente deve ser honrado. Conseqüentemente, respingamos em todos os que estão envolvidos conosco o fruto de um caráter tratado pelo Espírito de Deus.
2- O amor é o óleo que mantém nossas engrenagens espirituais rodando sem esforço.
1 Corintios 16. 14 Que tudo o que vocês fizerem seja feito com amor.
Sem amor nossa vida Pastoral se torna uma luta de “cabo de guerra”. Só o amor para com todos, suportando as adversidades será capaz de nos convencer que não estamos brigando o tempo todo para firmar nossa posição, mas conciliando a todos até que Cristo volte e assuma o controle que lhe é devido.
3- O nosso serviço a Deus tem que ser desprovido de murmuração ou queixa.
Filipenses 2.14-15 ¶ Façam tudo sem queixas nem discussões, para que vocês não tenham nenhuma falha ou mancha. Sejam filhos de Deus, vivendo sem nenhuma culpa no meio de pessoas más, que não querem saber de Deus. No meio delas vocês devem brilhar como as estrelas no céu,
Andrew Bonar dizia: Seremos galardoados não apenas pelo trabalho que fizemos, mas pelas cargas que carregamos. Não tenho certeza, mas os galardoes mais significativos talvez sejam para os que levaram suas cargas sem murmurar. De fato uma vida azeda pela murmuração é altamente prejudicial a si mesmo e aos que nos suportam.
4- Fazer tudo como para o Senhor e não para as pessoas.
Colossenses 3.23-24 O que vocês fizerem façam de todo o coração, como se estivessem servindo o Senhor e não as pessoas. Lembrem que o Senhor lhes dará como recompensa aquilo que ele tem guardado para o seu povo, pois o verdadeiro Senhor que vocês servem é Cristo.
Um serviço sem esgotamento vem dessa profundidade de fé: tudo é para Ele, embora façamos às pessoas. Tereza de Calcutá, ao responder sobre a doação da sua vida aos leprosos dizia: é porque Jesus pode estar escondido em algum deles! O serviço verdadeiro é aquele que é executado sem a coação do êxito. Nosso alvo deve ser serviço, não sucesso. Se trabalhamos pela alegria do serviço, não nos preocupamos com os alardes dos seus efeitos.
Como vimos no começo deste estudo, estaremos evitando o esgotamento da saúde emocional no ministério quando toda a nossa motivação estiver em servir ao Senhor e não às pessoas. Servimos às pessoas motivados pelo resgate pago em nosso favor. E será dEle o nosso reconhecimento.
Voltemos a calibrar nossa vida pela Palavra para ter de volta a motivação para servir com excelência no ministério que Deus nos chamou.
Que Deus nos abençoe no pastoreio do seu rebanho.
Pr. Fábio Alcântara