Páginas

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Para Pensar

A dor humaniza.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Saúde no ministério pastoral: anotações práticas

fonte: Prof. Ronaldo Sathler Rosa

"Ter saúde é ter coragem para viver, coragem para sofrer e coragem para morrer"

(Jürgen Moltmann)

O tema da saúde adquire grande relevância nas sociedades contemporâneas. Vários profissionais, organizações sociais e instituições encontram-se envolvidas em atividades de contínua Educação para a Saúde de indivíduos, comunidades e famílias. A meta da educação para a saúde, em olhar cristão, é o alcance de nível elevado de bem-estar integral e o máximo de harmonia no convívio entre os humanos, com a natureza e com o Criador. Nesse quadro se insere a atenção à saúde daqueles e daquelas que são, entre outros, agentes importantes na promoção da saúde: mulheres e homens vocacionados ao pastoreio cristão.

Esboço, a seguir, a partir da experiência de colegas, de minha própria vivência pastoral e de estudos recentes, alguns fatores que podem ajudar pastores e pastoras no processo de alcançar-se certo grau de saúde que inspire e favoreça o mesmo bem-estar de eclesianos e daquelas pessoas que nos sejam mais próximas.

Outro dia, um pastor que se aproxima de seu vigésimo ano de ministério, falou-me de suas preocupações com a própria saúde e de seus colegas. Saliente-se que esse colega não se encontra “doente” no sentido limitado que é atribuído ao termo: alguém com sintomas físicos identificados, em fase de tratamento ou não. Observou que, por exemplo, o fato de pastores e pastoras serem administradores de seu próprio tempo favorece a ausência de disciplina pessoal que permita organizar melhor seu cotidiano. A auto-disciplina conduz à melhor administração do tempo. Cria espaços diários para oração, para estudo das Escrituras, para leituras, preparo das atividades, convívio familiar, atendimentos, visitação pastoral, além dos costumeiros imprevistos e outras. Não há regras rígidas para estabelecer-se certa organização do tempo. Cada pessoa pode montar seu próprio esquema de cuidados pessoais e agenda de trabalho. Faz bem à saúde, evita atropelos, correrias e abuso de improvisações.

Esse pastor disse, também, que conhece poucos colegas que fazem exercícios físicos regularmente. A prática rotineira de atividades físicas, devidamente orientadas e ajustadas à condição particular de cada um, é fator positivo para a eliminação de cansaços desproporcionais e para o equilíbrio da personalidade. A vida sedentária atinge, obviamente, o humor, a vitalidade, e pode comprometer o exercício prudente e responsivo do ministério pastoral.

Observou também que às vezes o dinheiro é mal gasto. Consome-se produtos que não favorecem uma dieta equilibrada que proporcione bem-estar e renove forças para lidar atentamente com os desafios do ofício pastoral. Lamentavelmente os meios de comunicação social, embora haja exceções, não dão devida ênfase às recentes descobertas científicas que valorizam o consumo de legumes, hortaliças e frutas, além de mais água e menos refrigerantes. Hábitos saudáveis, adaptados a cada pessoa, requerem “mudança de cabeça” e atitudes de não submissão às pressões por consumo exagerado de produtos que não alimentam.

A dificuldade que muitos homens demonstram em expor suas inquietações, seus sofrimentos a alguém de sua confiança é fator de patologias. Aliás, suspeito que a saúde das colegas pastoras é, geralmente, melhor do que a de pastores. Uma provável explicação deve-se ao fato de que as mulheres, em geral, não retêm para si suas preocupações. Buscam ombros de outros onde se apoiar e, assim, desenham o caminho da cura. Pastores e pastoras atuam em marcos centrais da vida humana: sentido da existência, dúvidas, relacionamentos, tomadas de decisões, afetividade, responsabilidade social e política... São questões que “mexem” muito com o interior da pessoa, seus relacionamentos mais fundamentais, com sua fé e com valores. Sofre-se com sofrimentos e dúvidas de outros. São, portanto, fatores potenciais de desestabilizações emocionais e interferem em relacionamentos familiares e outros.
A responsabilidade pelo cuidado da saúde não é de médicos. Cada pessoa é encarregada de sua própria saúde. É claro que profissionais de medicina e ciências afins devem ser consultados não apenas em situações de dor física, mas, principalmente, para assitir no importante trabalho de prevenção de condições doentias. Todavia, é bom lembrar que em nossa cultura brasileira os homens, em geral, não dão muita importância ao aspecto preventivo para o seu próprio bem-estar integral. O “cuidar de si”, tanto corretiva como preventivamente, é condição para “cuidar de outrem” por meio do cuidado pastoral.

Finalmente, outro fator que contribui para que não se dê maior atenção à saúde entre pastores é a ausência de uma Teologia da Saúde: a saúde considerada como inserida na mensagem cristã da salvação. Não se restringe, portanto, às curas das patologias individuais e da sociedade. A mensagem da salvação visa à criação de novo modo de vida, de renovação da mente, de novas atitudes em linha com os ensinamentos das Escrituras. Uma causa provável da pouca atenção da teologia sobre a saúde, deve-se à ênfase unilateral na “união da alma com Deus”. O corpo, é, então, ignorado. Sofre a alma com o corpo danificado; sofre o corpo com a alma ferida!

Em resumo, hábitos simples como cuidadosa organização de seu dia, a prática de exercícios físicos, atenção à qualidade dos alimentos que consome, ter alguém a quem abrir-se em confiança e aceitar que o cuidado com a saúde é, primeiramente, responsabilidade pessoal, podem ser canais de cura e de alegria. Resta-nos continuar o caminho na reflexão sobre a Teologia da Saúde.

Ronaldo Sathler-Rosa, professor titular aposentado da Universidade Metodista de São Paulo. Presbítero da Igreja Metodista na 3ª. RE.

www.cuidadopastoral.blogspot.com

Entrevista: Estresse pastoral

fonte: Expositor Cristão

Entrevista com o psicólogo e pastor metodista, Josias Pereira, concedida ao Jornal Expositor Cristão em junho de 2010, p. 8 e 9.

Qual é o maior estresse entre os pastores/as: físico ou psicológico? Por quê?
Resposta: No caso das atividades específicas do pastorado o estresse é sempre psicológico (emocional e mental), pois não há desgaste orgânico, porém, quando não se manifesta com distúrbios psíquicos ou emocionais produz o desencadeamento das somatizações, que são os sintomas orgânicos que se manifestam em quaisquer árias do organismo: cardíacas, circulatórias, gástricas, respiratórias, urinárias, neurológicas, dermatológicas, musculares ou esqueléticas (ossos). Em fim qualquer parte do corpo pode ser atingida. São as doenças psicossomáticas. Elas podem atingir as pessoas em qualquer faixa etária.
Quando o distúrbio se manifesta somente no âmbito mental, psicológico ou emocional é mais difícil de ser compreendido, e, no contexto religioso, pode ser atribuído a manifestações espirituais ou demoníacas, dada a sua subjetividade, já que é sentido, mas não pode ser entendido e nem tampouco ser explicado. Estes estados são modernamente chamados de Síndrome de Burnaut e que popularmente é conhecido como esgotamento nervoso.

Por que isso acontece e qual a razão do ministério pastoral estar mais suscetível?
Resposta:
Considerando que o desencadeamento desses processos está sempre vinculado a situações de conflitos psicológicos, tais como valores e costumes confrontados com sentimentos, desejos e opiniões pessoais em relação às cobranças e espectativas da comunidade, além de compromissos e deveres familiares e às próprias necessidades pessoais que nem sempre podem ser efetivadas.
Assim, pela natureza e características do ministério pastoral, cuja carga emocional, dada a variedade de situações adversas, é consideravelmente elevada,há de se convir que o desempenho pastoral é altamente estressante.

Quais são os sintomas que se apresentam com maior freqüência?
Resposta:
Não conheço estatísticas confiáveis que indiquem quais sintomas são mais freqüentes.
As manifestações psicossomáticas dependem de uma gama extensa de fatores para o surgimento de sintomas que são oriundos de duas vertentes básicas: as determinantes e as desencadeantes. As primeiras são decorrentes de fatores internos e as segundas de acontecimentos externos. Quando então podem entrar em jogo hereditariedade, suscetibilidade, temperamento ( jeito de ser), história de vida e seus traumas, bem como o potencial individual e outros tantos.
Entretanto, podemos considerar os sintomas em função de suas conseqüências, isto é, hà manifestações somáticas que são graves, porém, não apresentam urgência, pois suas conseqüências ocorrem a longo prazo, tais como fenômenos digestivos ou dermatológicos e outros tantos. Já as agudas são as crises circulatórias ou cardíacas, são os casos de AVCs ( acidente vascular cerebral= derrame cerebral ou infarto cerebral) que exigem atendimento com muita urgência, pois qualquer demora pode ser fatal.
Entretanto, é bom saber que para todos estes casos a prevenção ainda é o melhor.

Existe um período (em anos de ministério) mais estressante para o/a Clérigo/a?
Resposta:
A rigor não, pois tudo depende muito das condições pessoais e circunstanciais, bem como das contingências. Mas apesar de não termos conhecimento de dados estatísticos, a experiência indica que é mais provável nos primeiros anos de ministério e nas proximidades da aposentadoria, talvez pela insegurança do porvir, que também se apresentam com freqüência em outras atividades.

Existe um grupo de risco quanto as patologias? Se há um grupo de risco, quais são as propostas ou possibilidades para se tratar essa questão?
Resposta:
na minha experiência a atividade pastoral é o próprio risco pelos motivos já apresentados acima. Porém, quanto mais definida a vocação e quanto maior convicção do chamado divino, menor é o risco de estresses, pois o principal fator determinante são os conflitos de valores, embora esteja sempre inconsciente, pois quando conscientizados os sintomas podem a ser resolvidos.
Quanto a riscos agudos é a faixa etária que está entre quarenta e sessenta anos a mais exposta, sendo os quarenta e cinco a referência culminante, daí a importância da profilaxia.

O nível de estresse do clérigo/a pode repercutir no lar? Como evitar essa questão?
Resposta:
Sim, inquestionavelmente, pois uma pessoa estressada afeta as outras com as quais convive dispersando o seu mal estar entre os demais, pois o relacionamento inter e intrapessoal é altamente afetado.

José Geraldo Magalhães Jr