fonte: Prof. Ronaldo Sathler Rosa
"Ter saúde é ter coragem para viver, coragem para sofrer e coragem para morrer"
(Jürgen Moltmann)
O tema da saúde adquire grande relevância nas sociedades contemporâneas. Vários profissionais, organizações sociais e instituições encontram-se envolvidas em atividades de contínua Educação para a Saúde de indivíduos, comunidades e famílias. A meta da educação para a saúde, em olhar cristão, é o alcance de nível elevado de bem-estar integral e o máximo de harmonia no convívio entre os humanos, com a natureza e com o Criador. Nesse quadro se insere a atenção à saúde daqueles e daquelas que são, entre outros, agentes importantes na promoção da saúde: mulheres e homens vocacionados ao pastoreio cristão.
Esboço, a seguir, a partir da experiência de colegas, de minha própria vivência pastoral e de estudos recentes, alguns fatores que podem ajudar pastores e pastoras no processo de alcançar-se certo grau de saúde que inspire e favoreça o mesmo bem-estar de eclesianos e daquelas pessoas que nos sejam mais próximas.
Outro dia, um pastor que se aproxima de seu vigésimo ano de ministério, falou-me de suas preocupações com a própria saúde e de seus colegas. Saliente-se que esse colega não se encontra “doente” no sentido limitado que é atribuído ao termo: alguém com sintomas físicos identificados, em fase de tratamento ou não. Observou que, por exemplo, o fato de pastores e pastoras serem administradores de seu próprio tempo favorece a ausência de disciplina pessoal que permita organizar melhor seu cotidiano. A auto-disciplina conduz à melhor administração do tempo. Cria espaços diários para oração, para estudo das Escrituras, para leituras, preparo das atividades, convívio familiar, atendimentos, visitação pastoral, além dos costumeiros imprevistos e outras. Não há regras rígidas para estabelecer-se certa organização do tempo. Cada pessoa pode montar seu próprio esquema de cuidados pessoais e agenda de trabalho. Faz bem à saúde, evita atropelos, correrias e abuso de improvisações.
Esse pastor disse, também, que conhece poucos colegas que fazem exercícios físicos regularmente. A prática rotineira de atividades físicas, devidamente orientadas e ajustadas à condição particular de cada um, é fator positivo para a eliminação de cansaços desproporcionais e para o equilíbrio da personalidade. A vida sedentária atinge, obviamente, o humor, a vitalidade, e pode comprometer o exercício prudente e responsivo do ministério pastoral.
Observou também que às vezes o dinheiro é mal gasto. Consome-se produtos que não favorecem uma dieta equilibrada que proporcione bem-estar e renove forças para lidar atentamente com os desafios do ofício pastoral. Lamentavelmente os meios de comunicação social, embora haja exceções, não dão devida ênfase às recentes descobertas científicas que valorizam o consumo de legumes, hortaliças e frutas, além de mais água e menos refrigerantes. Hábitos saudáveis, adaptados a cada pessoa, requerem “mudança de cabeça” e atitudes de não submissão às pressões por consumo exagerado de produtos que não alimentam.
A dificuldade que muitos homens demonstram em expor suas inquietações, seus sofrimentos a alguém de sua confiança é fator de patologias. Aliás, suspeito que a saúde das colegas pastoras é, geralmente, melhor do que a de pastores. Uma provável explicação deve-se ao fato de que as mulheres, em geral, não retêm para si suas preocupações. Buscam ombros de outros onde se apoiar e, assim, desenham o caminho da cura. Pastores e pastoras atuam em marcos centrais da vida humana: sentido da existência, dúvidas, relacionamentos, tomadas de decisões, afetividade, responsabilidade social e política... São questões que “mexem” muito com o interior da pessoa, seus relacionamentos mais fundamentais, com sua fé e com valores. Sofre-se com sofrimentos e dúvidas de outros. São, portanto, fatores potenciais de desestabilizações emocionais e interferem em relacionamentos familiares e outros.
A responsabilidade pelo cuidado da saúde não é de médicos. Cada pessoa é encarregada de sua própria saúde. É claro que profissionais de medicina e ciências afins devem ser consultados não apenas em situações de dor física, mas, principalmente, para assitir no importante trabalho de prevenção de condições doentias. Todavia, é bom lembrar que em nossa cultura brasileira os homens, em geral, não dão muita importância ao aspecto preventivo para o seu próprio bem-estar integral. O “cuidar de si”, tanto corretiva como preventivamente, é condição para “cuidar de outrem” por meio do cuidado pastoral.
Finalmente, outro fator que contribui para que não se dê maior atenção à saúde entre pastores é a ausência de uma Teologia da Saúde: a saúde considerada como inserida na mensagem cristã da salvação. Não se restringe, portanto, às curas das patologias individuais e da sociedade. A mensagem da salvação visa à criação de novo modo de vida, de renovação da mente, de novas atitudes em linha com os ensinamentos das Escrituras. Uma causa provável da pouca atenção da teologia sobre a saúde, deve-se à ênfase unilateral na “união da alma com Deus”. O corpo, é, então, ignorado. Sofre a alma com o corpo danificado; sofre o corpo com a alma ferida!
Em resumo, hábitos simples como cuidadosa organização de seu dia, a prática de exercícios físicos, atenção à qualidade dos alimentos que consome, ter alguém a quem abrir-se em confiança e aceitar que o cuidado com a saúde é, primeiramente, responsabilidade pessoal, podem ser canais de cura e de alegria. Resta-nos continuar o caminho na reflexão sobre a Teologia da Saúde.
Ronaldo Sathler-Rosa, professor titular aposentado da Universidade Metodista de São Paulo. Presbítero da Igreja Metodista na 3ª. RE.
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