Nos
últimos trinta dias, três pastores americanos famosos cometeram suicídio. O
primeiro deles foi Teddy Parker Jr., de 42 anos, pastor da Igreja Batista Bibb
Mount Zion, na Geórgia, que se matou com um tiro na cabeça, após ter ministrado
no culto matinal de sua igreja. Na última semana, o pastor Ed Montgomery, líder
da Assembleia Internacional do Evangelho Pleno, em Illinois, ainda em luto pela
morte da esposa, atirou em si mesmo na frente de sua mãe e filho. No dia
10 de dezembro, foi a vez do Pr. Isaac Hunter, fundador da mega igreja Summit
em Orlando, Flórida. Este caso em particular chamou a atenção da mídia secular,
pois o pai de Isaac, o também pastor Joel Hunter, é conselheiro espiritual de
Barack Obama. Joel é líder da Northland, uma das igrejas que mais crescem
nos EUA, e tem sofrido severas críticas por parte de líderes mais conservadores
devido à sua aproximação do presidente. Conheci-o pessoalmente durante minha
estada na América. Em nosso longo papo em seu gabinete, Joel demonstrou ser um
homem visionário e humilde, totalmente comprometido com a agenda do reino de
Deus.
Apesar de
mais recentes, estes não são casos isolados de suicídios envolvendo pastores e
familiares. O mundialmente conhecido tele-evangelista Oral Roberts, considerado
um dos gurus do neopentecostalismo, também perdeu seu filho em suicídio depois
de ter sido severamente repreendido pelo pai ao declarar-se homossexual em rede
nacional. Recentemente, o pastor Franck Page, ex-presidente da Convenção
Batista do Sul dos EUA também perdeu sua filha Melissa em função de um
suicídio.
Mas,
provavelmente, o caso mais célebre foi o do filho caçula de Rick Warren,
considerado o pastor mais influente deste início de século nos EUA. Matthew
Warren tinha apenas 27 anos, e, segundo seus pais, lutou a vida inteira contra
a depressão. Em abril deste ano, Mattew resolveu por um fim em sua luta,
suicidando-se com um tiro após uma reunião familiar.
O que
estaria por trás desta onda de suicídios? Corremos o risco de vê-la chegar em
nosso país? Estaríamos prontos para lidar com isso? Talvez Deus esteja
permitindo isso para chamar nossa atenção para a gravidade do problema. Afinal,
não somos uma classe privilegiada, imunde a este tipo de coisas.
As
estatísticas não são nada animadoras. De acordo com o Instituto Schaeffer,
70% dos pastores lutam constantemente com a depressão, e 71% se dizem
esgotados. Além disso, 80% acredita que o ministério pastoral afeta
negativamente as suas famílias, e 70% dizem não ter um “amigo próximo”. Talvez
estes dados nos forneçam um retrato da condição emocional da maioria daqueles
que ocupam nossos púlpitos.
Recentemente,
deparei-me com uma frase postada no facebook que dizia: "É
melhor um fim honroso do que um horror sem fim." Seria isso que
se passa na mente de quem resolve dar cabo de sua existência terrena?
Duas
coisas me preocupam quanto a isso. Primeiro, precisamos buscar maneiras de
evitar que aconteçam mais suicídios entre pastores e familiares. Segundo, temos
que consolar às famílias que perderam entes queridos pelo suicídio.
Se dermos
atenção excessiva ao primeiro ponto, poderemos evitar alguns suicídios, ao
passo que traremos um jugo insuportável sobre famílias que perderam alguém
desta maneira tão cruel. Por exemplo: se insisto com a tese de que suicidas
estarão irremediavelmente condenados ao inferno, talvez consiga evitar que
alguns cheguem a este ato extremo, fazendo-os preocupar-se com o destino de
suas almas. Todavia, isso produzirá um sofrimento ainda maior à família.
Imagine ter que conviver com a ideia de que seu familiar querido foi condenado
ao inferno por haver se suicidado. Sinceramente, penso que não é por aí que
evitaremos o problema.
Não há
nenhum passagem bíblica que seja clara quanto a isso. Particularmente, creio
ser possível a salvação de um suicida. Se tiver dúvidas quanto a isso, sugiro
que assista ao vídeo postado abaixo, bem como às suas continuações disponíveis
em nosso canal no Youtube. Neles apresento bases teológicas para o que digo
aqui.
Então,
como podemos evitar que alguém, no auge de uma depressão, incorra numa decisão
tão drástica?
Primeiro,
precisamos rever a maneira como temos pregado o evangelho, geralmente centrado
no bem-estar do indivíduo. A proposta encontrada no evangelho da graça é de que
haja um deslocamento do eixo de nossa vida, ao que as Escrituras chamam de
conversão. Nosso ego é crucificado com Cristo, de forma que, deixamos de viver
em função de nosso aprazimento, passando a viver para Deus e para o bem
daqueles que nos cercam.
Quando o
indivíduo decide suicidar-se, seu objetivo é por fim à sua dor, sem importar-se
com a dor que provocará naqueles que o cercam. Todo suicida deveria considerar
que o fim de sua dor será o início de uma dor sem fim para aqueles que o amam.
O problema se agrava quando o suicida chega à conclusão de que ninguém se importa.
Ainda que não se sinta devidamente amado, se ele ama conforme Jesus ordenou,
certamente não vai querer ser motivo de dor para ninguém.
Segundo,
temos que combater o preconceito que muitos cristãos têm contra a psicologia e
a psiquiatria. Oração, leitura da Bíblia, adoração, são disciplinas importantes
na caminhada cristã. Entretanto, não se pode prescindir de ajuda profissional
quando o problema parece agravar-se. Assim como procuramos o dentista para
resolver o problema da dor de dente, e o cardiologista para tratar de
cardiopatias, deveríamos procurar ajuda psicológica para tratar de nossas
crises e depressões.
Terceiro,
devemos cultivar em nossos lares, bem como em nossas igrejas, um ambiente em
que cada um tenha liberdade para externar seus conflitos internos, sem receio
de ser rejeitado. Como disse o apóstolo, onde está o Espírito de Deus, aí há
liberdade. Não se trata de liberdade para fazer o que quiser, mas de liberdade
para ser o que é. Sem máscaras. Sem mentiras ou meias verdades.
Quarto,
todo líder precisa de amigos. Digo, amigos. Não, seguidores. Gente que possa
ouvir seus lamentos, sem julgá-lo. Infelizmente, as reuniões de pastores que
temos visto por aí não passa de um desfile de vaidades. A conversa entre eles
lembra aquela disputa entre meninos para ver quem tem o pingolim maior.
Parece que nunca superaram essa fase. Disputam entre si o número de membros de
suas igrejas, a arrecadação, as últimas aquisições, etc. Arrota-se narcisismo.
Quem suporta tanta pressão? Precisamos nos reunir para chorar uns nos ombros
dos outros, deixando de lado a presunção e o complexo de Papa (infalibilidade
papal, lembra?). Quem sabe, assim, reverteríamos esta estatística alarmante que
pode provocar uma onda de suicídios entre os que deveriam ser portadores da
mensagem da vida com abundância!
Por tratar-se de um assunto tão complexo, meu propósito aqui não é esgotá-lo, mas tão-somente incentivar a reflexão. Que Deus, na Pessoa bendita de Seu Espírito Santo, nos conceda sabedoria, misericórdia e tato para lidar com isso sem preconceito.
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