"Firmes"
"No demais, irmãos meus, fortalecei-vos no Se
nhor e na força do seu poder. Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que
possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo... para que possais
resistir no dia mau e, tendo feito tudo, ficar firmes. Estai, pois, firmes,
tendo cingidos os vossos lombos com a verdade, e vestida a couraça da justiça,
e calçados os pés na preparação do evange lho da paz, tomando... o escudo da
fé... o capacete da salvação, e a espada do Espírito... orai... vigiai"
(6:10-11, 13-18).
LUCAS 22
39 E, saindo, Jesus foi, como de costume, para o monte das Oliveiras;
e os discípulos o acompanharam. 40 Chegando ao lugar escolhido,
Jesus lhes disse:
— Orem, para que vocês não caiam em tentação.
41 Ele, por sua vez, se afastou um pouco, e, de joelhos, orava, 42 dizendo:
— Pai, se queres, afasta de mim este cálice! Contudo, não se faça
a minha vontade, e sim a tua.
43 Então lhe apareceu um anjo do céu que o confortava. 44 E, estando em agonia, orava
mais intensamente. E aconteceu que o suor dele se tornou como gotas de sangue
caindo sobre a terra. 45 Levantando-se da oração, Jesus foi até onde os discípulos estavam,
e os encontrou dormindo de tristeza. 46 E disse:
— Por que vocês estão dormindo? Levantem-se e orem, para que não
caiam em tentação.
A experiência cristã inicia-se com um assentar e continua
com um andar, mas não para aí. Todo crente precisa aprender a ficar firme.
Todos nós, crentes, precisamos estar prontos para o conflito. Precisamos saber
como assentar-nos em Cristo nos lugares celestiais, e precisamos saber como
andar condignamente, em Cristo, aqui na terra. Mas precisamos também saber como
resistir firmes diante do inimigo.
A questão do conflito nós a examinaremos agora, nesta terceira
seção de Efésios (6.10-20). É o que Paulo chama de "estar firmes contra as
astutas ciladas do diabo". Contudo, vamos relembrar de novo a ordem em que
Efésios apresenta estas questões para nós.
A seqüência é "assentar... andeis... firmes". É
que nenhum cristão pode esperar engajar-se na guerra espiritual, sem primeiro
descansar em Cristo e naquilo que Ele fez por nós.
A seguir, mediante o poder do Espírito agindo dentro do
cristão, ele passa a seguir a Cristo mediante uma vida prática e santa aqui na
terra. Se o crente for deficiente em uma destas duas áreas, descobrirá que toda
a conversa a respeito de uma guerra espiritual não passa realmente de conversa;
ele jamais conhecerá a realidade dessa luta.
Satanás pode dar-se ao luxo de desprezar esse crente, porque
este, na verdade, para nada serve. No entanto, esse mesmo crente pode
fortalecer-se "no Senhor, na força de seu poder" ao tomar
conhecimento, em primeiro lugar, dos valores de sua exaltação aos céus e,
depois, de ter andado com Cristo (compare 6.10 com 3.16).
Tendo estas duas lições bem aprendidas, o crente passa a
apreciar o terceiro princípio da vida cristã, agora resumido numa única
palavra: "firmes".
Deus tem um arqui-inimigo, sob cujo poder estão incontáveis
hostes de demônios e anjos decaídos, os quais procuram dominar o mundo e
excluir Deus de seu próprio reino. Esse é o sentido do v. 12. É uma explicação
das coisas que estão acontecendo ao nosso redor.
Nós só vemos "carne e sangue" armados contra nós,
ou seja, um sistema mundial de reis e governos hostis, de pecadores e pessoas
perversas.
Todavia, diz-nos Paulo que não é assim. Nossa luta, diz ele,
é "contra as astutas ciladas do diabo... contra as potestades, contra os
poderes deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais da maldade nas
regiões celestes", em suma, contra os enganos do próprio Satanás. Dois
tronos encontram-se em guerra.
Deus afirma seu domínio da terra, e Satanás procura usurpar
a autoridade de Deus. A Igreja é chamada para desalojar o diabo de seu reino, e
tornar Cristo o supremo Senhor de todos. Que estamos fazendo a respeito dessa
guerra?
Satanás desfere muitos ataques diretos contra os filhos e
filhas de Deus. É claro que não devemos atribuir ao diabo aqueles problemas que
são o resultado de nossa própria e deliberada quebra das leis do Senhor. Por
esta altura deveríamos saber como ordenar estas coisas. Recebemos, porém,
ataques físicos, desferidos contra os santos, da parte do diabo, contra seus
corpos e mentes, e precisamos estar bem conscientes disso.
É certo que muitos crentes ignoram o inimigo, crentes que
não sabem nada sobre os assaltos dele contra nossa vida espiritual. Deixaremos
que esses ataques fiquem sem resposta?
Temos nossa posição no Senhor, no céu, e estamos aprendendo
como andar com Ele, perante o mundo; mas, como devemos proceder na presença do
adversário de Deus e nosso? Diz-nos a Palavra de Deus: "Ficai
firmes". "Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que Possais
estar firmes contra as astutas ciladas do diabo". No grego é um verbo,
"estar firmes", acompanhado de uma preposição "contra", no
verso 11 o qual realmente significa "manter o território".
Nesta ordem de Deus existe uma verdade precisa, oculta. Não
se trata de uma ordem para que invadamos um território estrangeiro. A guerra
implicaria, no falar comum, em ordem para que "marchemos". Os
exércitos marcham e invadem outros países a fim de subjugá-los e ocupá-los.
Deus não nos ordenou que agíssemos dessa forma.
Não devemos marchar, mas "ficar firmes". A
expressão "ficar firmes" implica que o território disputado pelo
inimigo realmente pertence a Deus e, portanto, pertence a nós. Não precisamos
lutar a fim de estabelecer um forte nesse terreno.
Quase todas as armas de nossa guerra, descritas em Efésios,
são puramente defensivas. Até mesmo a espada pode ser usada tanto para a defesa
como para o ataque.
A diferença entre a guerra defensiva e a ofensiva está aqui:
na defensiva retemos o território, e basta-nos defendê-lo; na ofensiva, não
temos território e lutamos a fim de obtê-lo.
E essa é exatamente a diferença existente entre a guerra
promovida pelo Senhor Jesus e a guerra que nós promovemos. A guerra de Cristo é
ofensiva; a nossa, defensiva, em essência. Cristo lutou contra Satanás a fim de
vencê-lo, e dar-nos a vitória.
Mediante a cruz, o Senhor levou a batalha ao âmago do
próprio inferno, e assim levou cativo o cativeiro (4.8, 9). Hoje a guerra
contra Satanás nós a mantemos apenas para preservar e consolidar a vitória que
Ele já obteve para nós e nos entregou.
Mediante a ressurreição Deus proclamou seu Filho vitorioso,
pois venceu o reino das trevas. O território conquistado por Cristo, o Senhor
nos concedeu. Não precisamos lutar para conquistá-lo. Basta-nos que o
mantenhamos, expulsando todos os que o desafiam. Nossa tarefa consiste em
manter nossa posição, não em atacar.
Não se trata de fazer aumentar o território de Cristo, mas
de permanecer no território de Cristo. Deus conquistou aquele terreno, mediante
Jesus Cristo. O Senhor a seguir nos deu aquela vitória, para que a
mantivéssemos firmes.
Dentro do território de Cristo, a derrota do inimigo é um
fato consumado, e a Igreja foi colocada nesse território a fim de manter a
derrota do diabo. O inimigo deve ser mantido derrotado. Satanás é quem se
empenha em contra-atacar, e seus esforços procuram desalojar-nos da esfera de
Cristo. De nossa parte, não precisamos lutar para ocupar um terreno que já é
nosso.
Em Cristo nós somos conquistadores. Vencedores. "Mais
do que vencedores" (Roma nos 8.37). É nele, portanto, que estamos firmes.
Assim é que agora nós batalhamos, não para obter a vitória. Lutamos porque já
temos a vitória.
Não lutamos objetivando conseguir uma vitória, porque em
Cristo já a ganhamos. Os vencedores são aqueles que descansam na vitória
alcançada para eles por seu Deus, em Cristo. Se você quiser lutar a fim de
obter a vitória, já está derrotado antes de iniciar a luta.
O primordial objetivo de Satanás não é induzir-nos a pecar,
mas simplesmente facilitar para nós o pecado, fazendo-nos sair do território do
triunfo perfeito para onde Cristo nos levou. Ao longo da avenida de nosso
intelecto, ou de nosso coração, mediante nossa mente ou nossos sentimentos, o
diabo nos assalta no descanso que usufruímos em Cristo ou em nosso andar no
Espírito.
Todavia, há proteção para nós, uma armadura defensiva para
cada parte de nós que for atacada: o capacete, o cinturão, a couraça, o calçado
e, cobrindo-nos completamente, o escudo da fé que desvia os dardos inflamados.
Afiança-nos a fé: Cristo é exaltado. Diz mais a fé: Somos salvos pela graça de
Deus. Continua a fé: Temos livre acesso ao Pai. E termina a fé: Ele habita em
nós pelo seu Espírito (veja-se 1.20; 2.8;3.12, 17).
Visto que a vitória é do Senhor, ela se torna nossa.
Basta-nos que não pretendamos conquistar uma vitória, mas simplesmente
mantê-la: veremos o inimigo perecer em total destruição.
Não devemos pedir a Deus que nos capacite a vencer o
inimigo, e tampouco que possamos olhar para Jesus a fim de vencer o inimigo,
mas devemos louvá-lo porque Ele já fez essa obra em nosso lugar. O Senhor é o
vitorioso. É uma simples questão de termos fé nele.
Efésios 6 preocupa-se com algo mais do que o lado pessoal de
nossa guerra. Relaciona-se também com a obra de Deus que a nós foi confiada, a
expressão do mistério do evangelho de que Paulo tem tanto que falar (veja-se
3.1-13). Para isto recebemos duas armas, a espada do Espírito e a oração.
"Tomai... a espada do Espírito, que é a palavra de
Deus. E orai em todo o tempo com toda a oração e súplica no Espírito. Vigiai
nisto com toda a perseverança e súplica por todos os santos. Orai também por
mim, para que me seja dada, no abrir da minha boca, a palavra com confiança,
para com intrepidez fazer conhecer o mistério do evangelho, pelo qual sou
embaixador em cadeias, para que possa falar dele livremente, como devo
falar" (6.17-20).
É verdade, por um lado, que nosso Senhor Jesus está sentado
"acima de todo principado, e autoridade", e que "sujeitou todas
as coisas debaixo dos seus pés" (1.21, 22). Fica bem claro que é a luz
dessa vitória completa que devemos dar "graças sempre por tudo a nosso
Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo" (5.20).
Mas deixe-me adverti-lo: isto não é algo que se pode
"fazer em tempo de crise". Na verdade, é o fruto da obediência a
Deus, e de uma posição espiritual resultante da obediência, conhecida e
mantida. Trata-se de algo que devemos possuir sempre, para que esteja à nossa
disposição em época de necessidade.
Hoje estamos dando ênfase demais ao poder da natureza
empregado na obra de Deus. Precisamos aprender que, ainda quando é Deus quem
inicia a obra, se tentarmos executá-lo com nosso próprio poder, nosso Deus
jamais se com prometerá com nossa obra. Você me pergunta que é que eu entendo
por força natural.
Descrevendo-a de modo muito simples, eu diria que força
natural é aquela que empregamos sem a ajuda de Deus. Atribuímos a uma pessoa a
tarefa de organizar algo — que planeje, por exemplo, uma campanha de
evangelização, ou outra atividade qualquer — visto que tal pessoa é por
natureza uma pessoa organizada e organizadora.
Mas, nesse caso, qual será a dedicação dessa pessoa à
oração? Se essa pessoa está acostumada a confiar em seus dons naturais, poderá
não sentir necessidade de clamar a Deus. O problema que aflige a muitos de nós
é que há muitas coisas que podemos fazer sem precisar confiar em Deus!
Precisamos ser levados àquele ponto em que, ainda que
sejamos dotados naturalmente de grandes talentos, não ousamos agir, não ousamos
falar, a não ser se estivermos conscientes de nossa contínua de pendência do
Senhor.
Sejamos dependentes da unção do Senhor e sejamos firmes nas
suas promessas. Firmado em Cristo, seremos mais do que vencedores.
Assentados juntamente com Cristo, andando dignamente com Ele
e resistindo firmes diante do inimigo. Essa é a vida do cristão.