Páginas

domingo, 10 de março de 2019

Permita-se errar!






...e nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade, para louvor e glória da sua graça, pela qual nos fez agradáveis a si no Amado. Efésios 1.5-6

Gosto de falar sobre esse tema, pois por muito tempo fui um algoz de mim mesmo. Lembro de um artigo de revista que mostrou a vida do famoso cantor João Gilberto. Ele é conhecido pelo seu ouvido “absoluto” em matéria de música, mas extremamente exigente consigo mesmo. Muitos dos seus discos não são relançados porque ele acha defeito em todas as fases da produção. Nunca está bom. Um médico amigo seu, afirmou “minha impressão é que ele sofre da ‘síndrome do escrivão’, uma cobrança e perfeccionismo tão grandes que, quando vai tocar, sente até dor nas articulações”.

OS SINTOMAS

O perfeccionismo afeta muita gente e é a causa da infelicidade que atormenta suas vítimas. Não somos capazes de ser perfeitos. Talvez excelentes no que fazemos, mas longe da perfeição que os outros ou nós mesmos consideramos ideal. O perfeccionismo é a constante sensação de que nunca se consegue atingir o padrão desejado, nunca ser satisfeito naquilo que se propõe a fazer e que afeta tudo ao nosso redor, pois nada fica bom.

Como a pessoa jamais consegue atingir o que considera perfeito, experimenta-se uma sensação de auto depreciação e autodesprezo. Quando pegos em uma situação de surpresa, o sentimento de não ter desempenhado o papel ideal vem como um carcereiro. Afinal, “por que não fiz diferente? Por quê não falei a coisa certa para o meu chefe? Por quê não estudei direito? Por que não preguei aquele sermão como deveria?”. E aquela punição auto imposta se arrasta por dias a fio.

Alguns sinais podem mostrar se estamos reféns de sentimentos paralisantes que não nos deixa prosperar na área dos relacionamentos e da saúde mental. Um deles é a tirania dos deveres. A pessoa perfeccionista sempre achará que deveria ter feito melhor, que tem que melhorar ou que não foi muito bem. Além disso, se cobra constantemente por que seu empreendimento, sua igreja ou organização não está conforme sua expectativa, e a causa é sempre resulta em autocondenação. Girar a roda da vida constantemente é o seu trabalho e não se dá descanso por isto.

Outro sintoma do mal da exigente pessoa é a auto depreciação. Ela sempre achará não ser adequada para a tarefa que desempenha. Muitos outros com bem menos capacidade se consideram bem-sucedidos e vivem tranquilos com suas limitações, mas não o perfeccionista que é excelente em tudo, mas não se dá conta disso. Às vezes vamos um velório e ficamos admirados do tanto de gente que vão homenagear a bem-aventurada pessoa. Talvez se o perfeccionista pudesse ver o próprio velório ficaria surpreso por saber o quanto era admirado. Mas não precisa chegar a esse ponto, não é?

A ansiedade também assola a pessoa perfeccionista. Por esperar demais a aprovação dos outros, não consegue dar tempo ao tempo para que seu trabalho seja reconhecido pelos resultados. O perfeccionista é muito suscetível ao que as pessoas vão pensar dele e procura desesperadamente a aprovação alheia, o qual nunca vem de modo suficiente. Como não consegue aceitar a si mesmo e não tem convicção da aprovação do Pai celestial, se torna presa fácil das estimativas e opiniões acerca de si. É escravo dos cenhos franzidos do patrão, da esposa, do marido e dos amigos(as). Tenho um amigo que é tão certinho que nem consegue desligar o aplicativo de GPS sem pedir desculpas!

Além do mais, o perfeccionista é de difícil trato, pois só consegue observar nos outros o que fazem de errado, querendo corrigi-los o tempo todo. Ele não entende que ninguém muda ninguém, pois a pior forma de piorar alguém é tentar mudá-lo. Isso é trabalho do Espirito Santo. Se você quiser piorar alguém tímido, inseguro ou radical, tente muda-lo. Mas o perfeitão tenta!

A CURA

Os perfeccionistas foram programados de uma forma que se encheram de realidades imaginárias, ideias geniais, mas de realizações impossíveis, e de cobranças feitas a eles pelos seus antepassados. A cura começa a se instalar com a reprogramação da mente e de uma vida espiritual autêntica, baseada na aceitação incondicional por Deus através de Cristo. É encontrar a graça de Deus. Alguém disse que graça e o rosto que Deus tem quando olha para nossa imperfeição, nosso pecado, fraqueza e fracasso e nos chama para o Seu reino. Gosto de um autor que afirma Deus nos ama como somos e não como deveríamos ser.

Quando conhecemos o evangelho, aprendemos que toda a nossa aprovação deverá vir daquele a quem nos recebeu por sua inteira graça. A Bíblia diz que Deus nos aceita pela perfeição do Amado de Deus, Jesus. Ele cumpriu toda a justiça durante seus mais de trinta anos de perfeita obediência a tudo que o Pai ordenara. Ele fez isto por nós. Tendo realizado a obra que jamais poderíamos fazer, ele carregou a sentença da justiça divina e pagou nossa dívida acumulada. Agora ele está ressurreto, sentado à destra do Pai, intercedendo por nós.

Somente ao descansar em Cristo é que somos aptos para permanecer em pé com todos os nossos defeitos e imperfeições diante de um Deus tão perfeito. Jesus é a suficiência de Deus para a nossa deficiência. Tudo o que ele exigiu de nós Ele encontrou perfeição no Filho. Escondidos em Cristo, encontramos descanso para a nossa doença de querer ser perfeitos, podendo experimentar a liberdade de errar e não cair prostrados.

Errar e aceitar as próprias limitações é libertador. “Não sei mesmo”. “Não consigo mesmo”. “Sim, realmente ele/ela é melhor do que eu nessa área”. Desabafar como o Apóstolo Paulo: “miserável homem que sou...” (Romanos 7.24) mas descansar na fé curadora de que um dia realmente seremos perfeitos: Porque é necessário que este corpo corruptível se revista da incorruptibilidade, e que o corpo mortal se revista da imortalidade (1 Coríntios 15.53) Dê-se ao direito de falhar e saiba que disso faz parte o ser humano. Começar com essa consciência já é o primeiro passo em direção à cura.



Pr. Fábio Alcântara

Nenhum comentário: