E nos ressuscitou juntamente com
ele, e nos fez ASSENTAR nas regiões celestiais, em Cristo Jesus... pois é pela
graça que sois salvos, por meio da fé -e
isto não vem de vós, é dom de
Deus — não
das obras, para que ninguém se glorie (2:6-9).
Efésios é um livro que trata de fatos
relevantes da nossa espiritualidade:
A- A doutrina (capítulos 1 a 3); 1.
Nossa posição em Cristo (1:1-3:21);
B. Prática (Capítulos 4 a 6); 2. Nossa
vida no mundo (4:1-6:9); 3. Nossa atitude com relação ao inimigo (6:10-24)
Dentre todas as cartas de Paulo,
Efésios é aquela em que encontramos as mais elevadas verdades espirituais a
respeito da vida cristã. A carta é rica na espiritualidade e ao mesmo tempo,
intensamente prática. A primeira meta da carta revela nossa vida em Cristo como
sendo vida de união com Ele. A segunda metade da carta nos mostra, em termos
práticos, como tal vida celestial deve ser vivida aqui na terra.
Abordaremos alguns princípios que
fundamentam seu conteúdo, o coração da carta. Para esse propósito, selecionamos
uma palavra-chave de cada uma de suas seções, a fim de expressar o que
acreditamos ser sua principal ideia.
Na primeira seção da carta notamos a
palavra assentar (2.6), a
palavra-chave dessa seção, o segredo da verdadeira experiência cristã.
Na segunda parte, selecionamos a
palavra andeis (4.1), a qual exprime
nossa vida neste mundo, assunto dessa seção. Somos desafiados aqui a demonstrar
nossa conduta cristã, nosso comportamento coerente com tão elevada vocação.
Finalmente, na terceira seção,
encontramos a chave de nossa atitude perante nosso inimigo, a qual está contida
na palavra firmes (6.11). Assim é que
temos, então:
1. Nossa posição em Cristo - assentar (2.6)
2. Nossa vida no mundo - andeis (4.1)
3. Nossa atitude para com o inimigo -
firmes (6.11)
A vida do crente sempre apresenta estes
três aspectos.
O texto bíblico acima revela o segredo
de uma vida espiritual. A vida cristã
não começa com o andar; começa com o assentar. Podemos dizer que o crente
inicia sua vida cristã "em Cristo", isto é, quando pela fé ele se vê assentado
ao lado de Cristo no céu.
A maioria dos crentes comete o erro de
tentar andar para tornar-se capaz de assentar-se, o que contraria a ordem dos
fatos. Nosso raciocínio natural nos pergunta: se não andamos, de que modo vamos
atingir o alvo? Que é que vamos conseguir sem esforço? Como chegaremos a
qualquer destino se não nos movemos? Todavia, a vida cristã é engraçada! Se
logo de início tentamos fazer alguma coisa, nada obtemos; se procuramos atingir
algo, perdemos tudo. É que o cristianismo não começa com um grande FAÇA, mas
com um grandioso JÁ FOI FEITO. Assim é que Efésios se inicia com a declaração
de que Deus "nos abençoou com
todas as bênçãos espirituais nas regiões celestiais em Cristo" (1.3), e somos convidados, logo de início, a assentar-nos e
usufruir de tudo quanto Deus já fez por nós.
O ser humano vem de um caso perdido. Já
nasce em pecado, devendo para Deus, com um sofrível estado de criminalidade
moral e espiritual. Em pouco tempo descobrimos nosso estado catastrófico e nos
acostumamos com ele. Para sair disso, somos chamados a mudar de vida, mas tal
pedido se torna loucura, pois luta contra a natureza humana caída. Então o
jeito é se acostumar com a ideia de inferno ou passar a vida lutando contra a
culpa e o estado de débito constante que a religião oferece. Nada mais.
Andar implica esforço, mas Deus nos diz
que somos salvos não pelas obras, mas pela sua suficiência. Porque pela
graça vocês são salvos, mediante a fé; e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não
de obras, para que ninguém se glorie. (Efésios 2.8-9). Estamos constantemente falando de
"salvação pela fé", mas que queremos dizer com isso? Queremos dizer o
seguinte: Que somos salvos quando repousamos em Jesus Cristo. Nada fizemos,
absolutamente, para salvar-nos a nós mesmos; apenas depositamos no Senhor o
fardo de nossas almas sobrecarregadas do pecado.
Iniciamos nossa vida cristã, não
dependendo de nós mesmos, de algo que fazemos, mas na dependência do que Cristo
já fez. Enquanto a pessoa não proceder assim, não será uma cristã. Se alguém
disser: "Nada posso fazer a fim de salvar-me; mas pela sua graça Deus já fez tudo
para mim, em Cristo", terá dado o primeiro passo na vida de fé. A vida
cristã, do início até o fim, baseia-se no princípio da nossa total dependência
do Senhor Jesus. Não há limite para a graça que Deus deseja derramar sobre nós.
Ele quer dar-nos tudo, mas nada poderemos receber, a não ser que descansemos nele.
Assentar é uma atitude de descanso.
Que significa de fato assentar-nos?
Quando caminhamos ou ficamos de pé, suportamos em nossas pernas todo o peso do
nosso corpo, mas quando nos assentamos, todo nosso peso descansa sobre a cadeira,
ou o sofá em que nos sentamos. Nós nos cansamos depois de caminhar, ou ficar de
pé, mas sentimo-nos repousados se nos sentarmos durante algum tempo. Caminhando
ou ficando de pé, despendemos muita energia, mas quando nos sentamos, nós
relaxamos completamente, visto que o peso não recai sobre nossos músculos e
nervos, mas sobre algo fora de nós mesmos. Assim ocorre também no reino
espiritual: assentarmo-nos equivale a
depositar nosso peso total — a nossa pessoa, nosso futuro, nossas aflições,
tudo — sobre o Senhor. Deixamos que Ele assuma a responsabilidade e descansamos;
deixamos de carregar aquele fardo.
Essa foi a norma de Deus, desde o
início. Na criação, Deus trabalhou desde o primeiro dia até o sexto, e
descansou no sétimo. Podemos dizer, sem faltar à verdade, que o Senhor
trabalhou, esteve muito ocupado, durante aqueles primeiros seis dias. A seguir,
tendo terminado a obra, Ele parou de trabalhar. O sétimo dia tornou-se o dia de
descanso do Senhor; foi o repouso do Senhor.
Mas que diremos de Adão? Qual teria
sido sua posição em relação ao descanso de Deus? Ficamos sabendo que Adão foi
criado no sexto dia. Fica bem claro, então, que Adão nada teve que ver com os primeiros
seis dias de trabalho, visto que ele só veio a existir no fim da obra. O sétimo
dia de Deus foi, na verdade, o primeiro dia de Adão. Deus trabalhou seis dias e
depois disso usufruiu seu descanso. Adão iniciou sua vida com o descanso; Deus
trabalhou antes de descansar, mas o ser humano precisa primeiro entrar no
descanso de Deus, e só depois disso é que pode trabalhar.
Além do mais, só porque a obra de Deus
na criação estava terminada é que a vida de Adão poderia iniciar-se com o
repouso. E aqui temos o evangelho: Deus caminhou um pouco mais e completou também
a obra de redenção, e nós nada podemos (nem precisamos) fazer para merecê-la,
mas podemos pela fé receber as bênçãos de sua obra terminada.
É claro que sabemos que entre esses
dois fatos históricos, entre o repouso de Deus na criação e o repouso de Deus
na redenção, está toda a história trágica do pecado e julgamento de Adão, e do
labor incessante e improdutivo do homem, e da vinda do Filho de Deus, com o
objetivo de trabalhar duramente e entregar-se por nós, até que nossa posição
perdida fosse recuperada.
Jesus também trabalhou na obra de
redenção assim como o Pai havia feito na criação. Mas Jesus lhes disse: — Meu Pai trabalha até agora,
e eu trabalho também.
(João 5.17), explicou o Senhor, durante seu ministério. Só depois de pago o
preço da expiação, poderia Jesus dizer: "Está consumado". O cristianismo
na verdade significa que Deus fez tudo em Cristo, e que nós apenas penetramos
nessa realidade para usufruí-la, mediante a fé. A vontade do Senhor é que nos
vejamos "assentados" juntamente com Cristo, descansados na Sua obra.
A Bíblia deseja que compreendamos que
Deus, pelo seu infinito poder, primeiro fez a Cristo sentar-se à sua direita
nos céus: Ele exerceu esse
poder em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos e fazendo-o sentar à sua
direita nas regiões celestiais, (1.20) e, depois, pela sua graça, nos
fez assentar nas regiões celestiais, em Cristo Jesus: e juntamente com ele nos ressuscitou e
com ele nos fez assentar nas regiões celestiais em Cristo Jesus. (2.6).
A primeira lição que devemos aprender, portanto, é esta: Que o trabalho não é
inicialmente nosso, mas do Senhor. Não se trata de nós trabalharmos para Deus,
mas de Deus trabalhar para nós. Deus nos dá
a posição de repouso. Ele nos traz a
obra terminada de seu Filho e nos apresenta, dizendo: "Por favor,
sente-se".
A partir deste ponto, a experiência
cristã continua da forma como iniciou, não com base em nosso próprio trabalho,
mas sempre baseada na obra concluída de Cristo. Todas as novas experiências espirituais
se iniciam com a aceitação pela fé da obra realizada por Deus — se você
preferir, com um novo "assentar-se". Este é um princípio da vida,
algo que o próprio Deus determinou; e do princípio ao fim, cada estágio
sucessivo da vida cristã obedece ao mesmo princípio estipulado por Ele.
Efésios estabelece a realidade. Esta
começa em Jesus Cristo, e com o fato de que Deus nos escolheu nele antes
da fundação do mundo Antes da fundação do mundo, Deus nos escolheu, nele, para sermos santos
e irrepreensíveis diante dele. (1.4). Quando o Espírito Santo nos revela Cristo e nós
cremos nele, imediatamente, sem que haja necessidade de qualquer ato de nossa
parte, inicia-se uma vida de união com o Senhor.
Mas se todas essas coisas se tornam
nossas apenas pela fé, que diremos a respeito da questão importantíssima e
muito prática de nossa santificação? De que forma podemos conhecer a libertação
real, agora, da escravidão do Pecado? De que modo o "velho homem",
que nos perseguiu e nos perturbou durante tantos anos pode ser
"crucificado", deslocado e descartado?
Novamente descobrimos que o segredo não
está em andar, mas em assentar-nos; não em fazer algo, mas em descansar em algo
que já foi feito. "Estamos mortos para o pecado". "Fomos batizados na sua
morte". "Fomos sepultados com ele". [Deus]
"nos ressuscitou juntamente com Cristo" (Romanos 6.2,3,4;
Efésios 2.5). Todos esses acontecimentos estão descritos no passado. Por quê?
Porque o Senhor Jesus foi crucificado há mais de 2.000 anos, e eu fui crucificado com ele. Eis o grandioso fato histórico de um pretérito perfeito. A experiência
de Cristo tornou-se minha história espiritual, e Deus pode referir-se a mim
como tendo eu já todas as coisas "nele".
Tudo quanto eu tenho agora, eu o tenho
"em Cristo". Nas Escrituras nós nunca encontramos estes fatos
descritos no futuro, e tampouco como sendo desejadas no presente. São fatos
históricos de Cristo, e nós, os que cremos, penetramos neles pela fé. "Com
Cristo" — crucificados, mortos, ressurretos, assentados nas regiões
celestiais.
Como podem essas coisas todas ser
assim? Que milagre é esse? Não podemos explicá-lo. Devemos recebê-lo da parte
de Deus como algo que o Senhor mesmo fez. Nós não nascemos com Cristo, mas fomos
crucificados com ele. Portanto, nossa união com Cristo teve início em sua morte.
Deus nos incluiu em Cristo, na morte de cruz. Porque eu, mediante a própria lei, morri para a
lei, a fim de viver para Deus. Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou
eu quem vive, mas Cristo vive em mim. E esse viver que agora tenho na carne,
vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim. Gálatas
2.19-20. Mas como posso ter certeza de que estou
"em Cristo"? Posso ter certeza porque a Bíblia afirma que assim é, e
que foi Deus quem me pôs nele. Trata-se de algo realizado por Deus, para ser
visto, crido, aceito e usufruído por nós, e fim de papo.
Para você ter uma vida espiritual
autêntica e com poder para vive-la, primeiro descanse na obra consumada do
Senhor Jesus. Depois se levante e vá na força do Seu poder. Não somos chamados
para viver na inércia, sem servir com os nossos dons. mas também não fomos
salvos para viver uma vida esgotada. O convite de Jesus é sempre: descanse. Venham a mim todos vocês que estão cansados e
sobrecarregados, e eu os aliviarei. Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de
mim, porque sou manso e humilde de coração; e vocês acharão descanso para a sua alma. Porque
o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve. Mateus 11.28-30.
Pr. Fábio Alcântara