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sexta-feira, 24 de abril de 2015

Voltando a servir com alegria - Final

Sucesso é entender o pastorado

A esposa de um amigo conta que certa noite encontrou seu marido dormindo ao pé da cama, apoiado nos cotovelos e joelhos. Seus braços estavam arqueados à sua frente, como se ele estivesse segurando algo.
- Jorge, o que você está fazendo? – gritou ela
- Shh – ele respondeu, ainda adormecido – estou segurando uma pirâmide de bolinhas de gude e, se eu me mover, elas vão cair!
Um sonho clássico de Pastor. Primeiro, porque foi a revelação subconsciente de um Pastor. Segundo, porque a pirâmide de bolinhas de gude é uma metáfora adequada do trabalho pastoral.

Há alguns perigos que envolvem a vida no ministério Pastoral.
O principal perigo é ele se deixar levar a sério demais. Alguns pregadores nos dias de hoje, embora felizmente não muitos, recaem nesse erro. Certa vez, Spurgeon os caracterizou como tendo a alma enrolada na gravata.  São os pastores sombrios que os romancistas se deliciam em caricaturar. Um epigrama relacionado ao oficio pastoral útil aqui é: embora a seriedade com que encaramos nosso trabalho nunca seja demasiada, precisamos jamais nos levar demasiadamente a sério. Os servos do mestre são, no máximo, vasos de barro – e rachados!
Li uma vez na revista VEJA: "Se uma pessoa quiser ocupar-se incessantemente de coisas sérias e não se abandonar de vez em quando ao divertimento, sem perceber ficará louco ou idiota".  (Heródoto)

Outro perigo semelhante é o complexo de messias. Isso pode ser observado no pastor tão imerso em seu trabalho a ponto de imaginar que nada pode ser feito direito sem ele. Ele é o pregador onipresente, que participa de todas as reuniões e preside todos os cultos e atividades. Esse pastor perdeu qualquer contato com a verdade libertadora de que ele é prescindível.

Um perigo associado ao envolvimento pastoral é o trabalho exagerado. Ele se dedica totalmente ao seu trabalho e pensa ter uma boa justificativa ao fazer isso. E o resultado trágico de tal envolvimento excessivo é negligenciar a família.


TRABALHO DIFICIL
Por que o trabalho pastoral é tão difícil? Porque ele sofre oposição de Satanás. O diabo odeia Cristo, sua igreja e aqueles que a lideram. E, devido a isso, os líderes da igreja são submetidos a especial atenção de suas hostes demoníacas. Isso é especialmente verdadeiro se o ministério de alguém exibe um progresso espiritual particular. Coordenando as forças do mal, existe uma sabedoria diabólica que faz dos ministros alvos inevitáveis de dificuldades. Todas as congregações precisam compreender isso e orar adequadamente por seus pastores se quiserem que eles sejam bem sucedidos.

Além desse motivo espiritual, existe também a pressão de que o pastorado exige que se faça muitas coisas bem feitas. O pastor é chamado a ser um líder administrador, conselheiro e pregador competente, tudo ao mesmo tempo. Isso pode não parecer assustador externamente, mas internamente é algo bastante temível.
Para começar, o pastor atua como o executivo principal de uma organização voluntária! Ninguém, exceto seu secretário e seu assistente (se houver, com muita sorte), é obrigado a fazer qualquer coisa que ele diga. Sua condição seria impossível para um executivo do mundo dos negócios, cujo desejo é um mandamento para seus subordinados. O pastor não pode liderar por ordenanças, precisa liderar por meio de exemplo e influencia. E, se em qualquer outro ponto um dos membros da igreja discordar, ele pode dizer ao seu executivo o que pensa e ir embora ou formar um movimento de oposição. Esse igualitarismo funcional faz da liderança uma arte delicadíssima.

Isso se torna algo complexo pelo fato de a igreja, uma realidade tão simples para os desinformados, ser uma estrutura extremamente complexa. Embora variem os nomes dos conselhos e departamentos, normalmente a igreja terá departamentos separados por presbíteros, diáconos, missões e educação, que por sua vez, terão uma confusão de departamentos permanentes e temporários. A estrutura hierárquica pode parecer boa no papel, mas o funcionamento diário revelará uma teia de responsabilidades confusas e invasões territoriais que desafiariam a liderança de Benjamim Franklin!

PREGAÇÃO
Mas talvez o maior desafio do pastorado seja a pregação. Para Spurgeon, e qualquer outro que enxergue a grandeza da responsabilidade, a pregação torna-se difícil porque nunca pode ser suficientemente boa.

Nesse sentido, pregar é difícil porque exige o melhor do pregador. Descobrir o significado exegético de um texto em seu contexto pode consumir horas de trabalho; transmitir a ideia central dentro do formato de um sermão a partir do texto consome ainda mais horas; sua aplicação e ilustração, mais ainda. E então, mesmo que o pregador seja Santo Agostinho, o sermão pode não corresponder à expectativa. “Minha pregação quase sempre me desagrada”, dizia ele.

Não menos importante, dentre os desafios da pregação é o pastor falar às mesmas pessoas semana após semana. A respeito disso, John Bright, famoso estadista e orador inglês, disse: “Nada do que eu consiga imaginar me induziria a aceitar a falar à mesma plateia uma vez por semana durante um ano!” não obstante, Deus chama seus pastores a fazê-lo uma vez e, frequentemente, duas ou três vezes por semana. Qualquer congregação que teve o mesmo pastor durante vários anos já ouviu todas as suas “soluções milagrosas”, historias favoritas, anedotas e ilustrações. O desafio de pregar para as mesmas pessoas aumenta com o tempo.

Qual o meu segredo? Realmente se depender de ideias e criatividade para apresentar nos finais de semana, a Bíblia ficará pequena. Mas tenho aprendido a pregar expositivamente. Pego um evangelho, depois uma carta e depois um livro do Antigo Testamento e passo a ensinar e a pregar vagarosamente. Lembro-me de ter ouvido a citação de que Lloyd Jones pregou 15 anos no livro de Romanos e não conseguiu terminar. Assim não fico viciado em alguns temas e sou desafiado a pesquisar coisas diferentes. E vou aprendendo e levando o povo junto comigo, me recusando a enjoar do povo que Deus me confiou.

Enfim, se você é Pastor ou Pastora, enfrenta essas dificuldades e desafios e deve conviver sabiamente com eles. “E assim mesmo”, dizia um pastor amigo ao ouvir minhas lamentações. Então vamos lá. Compreendendo as dificuldades é um bom passo para a paz.



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