Sucesso é entender o pastorado
A esposa de um amigo conta que certa noite encontrou seu
marido dormindo ao pé da cama, apoiado nos cotovelos e joelhos. Seus braços
estavam arqueados à sua frente, como se ele estivesse segurando algo.
- Jorge, o que você está fazendo? – gritou ela
- Shh – ele respondeu, ainda adormecido – estou segurando
uma pirâmide de bolinhas de gude e, se eu me mover, elas vão cair!
Um sonho clássico de Pastor. Primeiro, porque foi a
revelação subconsciente de um Pastor. Segundo, porque a pirâmide de bolinhas de
gude é uma metáfora adequada do trabalho pastoral.
Há alguns perigos que
envolvem a vida no ministério Pastoral.
O principal perigo é ele se deixar levar a sério demais.
Alguns pregadores nos dias de hoje, embora felizmente não muitos, recaem nesse
erro. Certa vez, Spurgeon os caracterizou como tendo a alma enrolada na
gravata. São os pastores sombrios que os
romancistas se deliciam em caricaturar. Um epigrama relacionado ao oficio pastoral
útil aqui é: embora a seriedade com que
encaramos nosso trabalho nunca seja demasiada, precisamos jamais nos levar
demasiadamente a sério. Os servos do mestre são, no máximo, vasos de barro –
e rachados!
Li uma vez na revista VEJA: "Se uma pessoa quiser ocupar-se
incessantemente de coisas sérias e não se abandonar de vez em quando ao
divertimento, sem perceber ficará louco ou idiota". (Heródoto)
Outro perigo semelhante é o complexo de messias. Isso pode ser observado no pastor tão imerso
em seu trabalho a ponto de imaginar que nada pode ser feito direito sem ele.
Ele é o pregador onipresente, que participa de todas as reuniões e preside
todos os cultos e atividades. Esse pastor perdeu qualquer contato com a verdade
libertadora de que ele é prescindível.
Um perigo associado ao envolvimento pastoral é o trabalho exagerado. Ele se dedica
totalmente ao seu trabalho e pensa ter uma boa justificativa ao fazer isso. E o
resultado trágico de tal envolvimento excessivo é negligenciar a família.
TRABALHO DIFICIL
Por que o trabalho pastoral é tão difícil? Porque ele sofre oposição de Satanás. O diabo
odeia Cristo, sua igreja e aqueles que a lideram. E, devido a isso, os líderes
da igreja são submetidos a especial atenção de suas hostes demoníacas. Isso é
especialmente verdadeiro se o ministério de alguém exibe um progresso
espiritual particular. Coordenando as forças do mal, existe uma sabedoria diabólica
que faz dos ministros alvos inevitáveis de dificuldades. Todas as congregações
precisam compreender isso e orar adequadamente por seus pastores se quiserem
que eles sejam bem sucedidos.
Além desse motivo espiritual, existe também a pressão de que
o pastorado exige que se faça muitas
coisas bem feitas. O pastor é chamado a ser um líder administrador,
conselheiro e pregador competente, tudo ao mesmo tempo. Isso pode não parecer
assustador externamente, mas internamente é algo bastante temível.
Para começar, o pastor atua como o executivo principal de
uma organização voluntária! Ninguém,
exceto seu secretário e seu assistente (se houver, com muita sorte), é obrigado
a fazer qualquer coisa que ele diga. Sua condição seria impossível para um
executivo do mundo dos negócios, cujo desejo é um mandamento para seus
subordinados. O pastor não pode liderar por ordenanças, precisa liderar por
meio de exemplo e influencia. E, se em qualquer outro ponto um dos membros da
igreja discordar, ele pode dizer ao seu executivo o que pensa e ir embora ou
formar um movimento de oposição. Esse igualitarismo funcional faz da liderança
uma arte delicadíssima.
Isso se torna algo complexo pelo fato de a igreja, uma realidade
tão simples para os desinformados, ser uma estrutura extremamente complexa. Embora
variem os nomes dos conselhos e departamentos, normalmente a igreja terá departamentos
separados por presbíteros, diáconos, missões e educação, que por sua vez, terão
uma confusão de departamentos permanentes e temporários. A estrutura hierárquica
pode parecer boa no papel, mas o funcionamento diário revelará uma teia de
responsabilidades confusas e invasões territoriais que desafiariam a liderança
de Benjamim Franklin!
PREGAÇÃO
Mas talvez o maior desafio do pastorado seja a pregação. Para
Spurgeon, e qualquer outro que enxergue a grandeza da responsabilidade, a
pregação torna-se difícil porque nunca pode ser suficientemente boa.
Nesse sentido, pregar é difícil porque exige o melhor do
pregador. Descobrir o significado exegético de um texto em seu contexto pode
consumir horas de trabalho; transmitir a ideia central dentro do formato de um sermão
a partir do texto consome ainda mais horas; sua aplicação e ilustração, mais
ainda. E então, mesmo que o pregador seja Santo Agostinho, o sermão pode não corresponder
à expectativa. “Minha pregação quase sempre me desagrada”, dizia ele.
Não menos importante, dentre os desafios da pregação é o
pastor falar às mesmas pessoas semana após semana. A respeito disso, John
Bright, famoso estadista e orador inglês, disse: “Nada do que eu consiga
imaginar me induziria a aceitar a falar à mesma plateia uma vez por semana
durante um ano!” não obstante, Deus chama seus pastores a fazê-lo uma vez e,
frequentemente, duas ou três vezes por semana. Qualquer congregação que teve o
mesmo pastor durante vários anos já ouviu todas as suas “soluções milagrosas”,
historias favoritas, anedotas e ilustrações. O desafio de pregar para as mesmas
pessoas aumenta com o tempo.
Qual o meu segredo? Realmente se depender de ideias e
criatividade para apresentar nos finais de semana, a Bíblia ficará pequena. Mas
tenho aprendido a pregar expositivamente. Pego um evangelho, depois uma carta e
depois um livro do Antigo Testamento e passo a ensinar e a pregar
vagarosamente. Lembro-me de ter ouvido a citação de que Lloyd Jones pregou 15
anos no livro de Romanos e não conseguiu terminar. Assim não fico viciado em
alguns temas e sou desafiado a pesquisar coisas diferentes. E vou aprendendo e
levando o povo junto comigo, me recusando a enjoar do povo que Deus me confiou.
Enfim, se você é Pastor ou Pastora, enfrenta essas
dificuldades e desafios e deve conviver sabiamente com eles. “E assim mesmo”,
dizia um pastor amigo ao ouvir minhas lamentações. Então vamos lá. Compreendendo
as dificuldades é um bom passo para a paz.
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